No final de outubro de 2017, eu publiquei um artigo onde sugeri que se reconhecesse uma nova falácia ao qual nomeei "falácia da igualdade". Ao final daquela obra, comentei sobre os possíveis impactos do reconhecimento de minha proposta, em especial ao campo da filosofia política numa de suas correntes mais proeminentes, a esquerda.
No presente artigo, eu foco nessas implicações propondo dois argumentos contra a ideologia igualitariana baseados na falácia lógica proposta em minha obra anterior. Para ouvi-lo, há uma versão em áudio lida por mim que pode ser acessada por esse link.
Momergil
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Introdução
Um dos frutos do intelecto humano tem sido a concepção de "pacotes de ideias": conjuntos de uma ou mais proposições alegadamente verdadeiras e de alguma maneira ligadas entre si. Escolas filosóficas, teorias científicas e a parte teológica das religiões são exemplos de algumas categorias ou tipos de pacotes assim.
Na medida que tais grupos de ideias fazem afirmações descritivas e/ou prescritivas acerca do mundo, uma questão de debate que normalmente os acompanha é se um certo grupo é "verdadeiro" ou "correto". Neste caso, quanto às proposições descritivas, pode-se entender genericamente que um pacote só poderá ser verdadeiro ou correto se e somente se tais proposições corresponderem à realidade como ela é[N1]. Já sobre as afirmações prescritivas, as que dizem como as coisas deveriam ser (objetivos) ou o que deveria ser feito (métodos), genericamente será necessário que seus eventuais pressupostos descritivos sejam equivalentemente correspondentes à realidade, que sejam decentemente aptas a atingirem algum alvo apresentado e que tal seja desejável[N2]. Caso contrário, se uma de suas propostas defender medidas inaceitáveis ou um alvo inaceitável, o pacote também será errado.
Assim, por exemplo, o sistema econômico capitalista capitaneado pelo escocês Adam Smith contrapôs-se ao mercantilismo presente em sua época em ao menos três coisas: descritivamente, que a riqueza de uma nação não é fruto ou igual às posses físicas de terras, ouro e afins que ela detém, mas reside também na capacidade produtiva dos seus cidadãos; e, prescritivamente, que devemos procurar implementar meios de aumentar essa capacidade produtiva, tal como especialização da mão-de-obra, a fim de tornar as sociedades mais prósperas e ricas, o que seria um alvo almejável[N3][R1][R2][R3]. Assim sendo, a avaliação quanto à veracidade do capitalismo passa pela avaliação dessas afirmações: se é verdade que a riqueza de uma nação envolve a capacidade produtiva dos seus cidadãos, que devemos buscar uma sociedade mais próspera e que um meio para esse fim é o aumento da produtividade por meios como especialização de mão-de-obra, então, tem-se que o capitalismo é uma visão correta. Se, por outro lado, a riqueza for medida tão somente em terras ou não devemos buscar maior prosperidade dos povos ou os meios propostos, como especialização de mão-de-obra, são inadequados e doravante não deveriam ser adotados, a visão será dada como falha.
Quando se trata dessa questão de verificar a veracidade de um pacote, se poderia entender que a refutação de qualquer uma de suas afirmações automaticamente implicaria na sua derrota. Isso, todavia, não necessariamente procede uma vez que ideários podem conter asseverações que se distinguem entre si quanto à sua relevância para ele. Algumas propostas menos relevantes podem estar ligadas a vertentes de uma ideia principal ou derivações de teses mais importantes suportadas por argumentos de menor credibilidade. Independente do motivo, isso implica na necessidade de se distinguir entre afirmações "essenciais" e "não-essenciais" a uma tese. Aquelas reconhecidas como essenciais são as que estão de alguma forma atreladas ao pacote que, sem uma delas sequer, ele se desfiguraria e efetivamente passaria a ser outra coisa, outro grupo de ideias. Por consequência, a inveracidade de uma dessas afirmações implica na invalidade do pacote como um todo ainda que outras sejam reconhecidas como corretas. O mesmo não acontece com as propostas secundárias: ainda que possam ser tradicionais, são supérfluas de tal forma que sua demonstrada invalidade não implicará na anulação do pacote como um todo.
Um exemplo desta complexidade se verifica na teologia de religiões como o Cristianismo. Neste caso, tem-se que a teologia cristã é composta de uma série de doutrinas que englobam um conjunto de crenças sobre variados temas tais como Deus, o ser humano e o pecado[R4][R5]. Embora boa parte dos cristãos acredite em alguma variação dessas doutrinas, apenas algumas são essenciais à fé[R6][R7][R8] e não podem estar erradas para que ela seja uma religião verdadeira. Um caso é a doutrina de Deus que afirma existir tal ser supremo fonte da existência do universo[R9]. Se por acaso alguém demonstrasse que tal ser não existe, então o Cristianismo estaria errado numa de suas afirmações essenciais e, por consequência, seria um pacote de ideias errado e uma religião falsa[N4]. Ainda que muitos ensinos de Jesus permanecessem válidos, a fé como tal teria o seu fim; "não há Cristianismo sem Deus". O mesmo não ocorreria com a doutrina da inerrância bíblica que afirma a plena veracidade dos ensinos do livro sagrado desta religião[N5]. Se ao menos um erro qualquer fosse encontrado em tal livro, a doutrina seria refutada, porém dificilmente um cristão julgaria plausível abandonar a sua fé por causa disso precisamente por se tratar de um relativo pormenor teológico. Ou seja, embora tradicionalmente acreditada, a doutrina da inerrância bíblica não é essencial ao Cristianismo[R10].
Assim, se for identificado que um ideário possui uma afirmação não-essencial, refutá-la não implicará na derrota do pacote. Se, porém, uma essencial para ele for achada inaceitável, a crença nele deverá ser suspensa. De fato, pode-se defender que basta ser demonstrado que uma asseveração essencial não é adequadamente suportada (que não há razão conhecida para crer que ela seja verdadeira ou mesmo que não é possível saber se é verdadeira) que qualquer adoção do ideário passará a ser irracional[N6]. Em outras palavras, se um indivíduo não souber de alguma razão plausível para acreditar em uma única proposta essencial a um ideário, então ele não deverá acreditar e defender tal pacote.
Tudo isso dito, a relevância sobre essas deliberações e dos debates relacionados poderia ser questionada. Tal está ligada à importância que se dá para a verdade de afirmações. Uma perspectiva sugere que, longe de triviais, tais questões são importantes para o mundo porque crenças afetam as ações dos que nelas creem trazendo consigo consequências reais para muitos[N7]. Em especial, ideias erradas, uma vez acreditadas, podem conduzir indivíduos a escolhas erradas que, por sua vez, poderão levar a ações inadequadas que poderão trazer grandes males, dores e sofrimentos. De fato, parte dos males que já assolaram a humanidade foram derivados de crenças equivocadas, um exemplo clássico sendo o Holocausto nazista. Assim, na medida que nos for relevante evitar esses males, será relevante que se procure atestar a veracidade de um ideário antes de abraçá-lo. Caso isso já tenha acontecido, então, será plausível abandoná-lo tão logo ele seja invalidado em reflexão posterior.
Com isso em mente, o que segue é uma avaliação da veracidade de um pacote de ideias específico: a filosofia política esquerdista.
O igualitarianismo
Na área da filosofia política, uma visão comumente denominada de "esquerda" prega o igualitarianismo[R11][R12]: a defesa da igualdade ou mais dela em algum aspecto no ambiente político, social e/ou econômico[R13][R14]. Formalizada nos tempos do Iluminismo, ela pode ser afirmada de várias formas tais como de recursos, de bem-estar, entre outros. Independente de qual se defenda, sua justificativa é amparada sobre duas possíveis visões: como um meio e como um fim em si mesmo[R14]. A paridade como um meio caracteriza-se pela tese de que tê-la ou ter mais dela pode não ser bom e desejável por si próprio, porém, é útil na medida que consegue levar a fins proveitosos e desejáveis, ou seja, seria algo que possui valor extrínseco. Essa perspectiva propõe que deveríamos implementar a igualdade ou mais dela como instrumento para conseguirmos um mundo melhor. Já a outra visão defende a existência de valor intrínseco a ela, ou seja, que ela é por si só um bem, um valor, que doravante se auto justifica. Assim, na medida que fizermos do mundo um lugar igualitário ou mais igualitário, só por isso este se tornará melhor.
Assim entendido, a proposta igualitariana do esquerdismo é marcada pelo direcionamento a um nível positivo, superior, a um fim melhor. Tal característica não é gratuita ou única ou tampouco meramente tradicional uma vez que é intrínseca a qualquer visão política composta de um componente prescritivo; toda ideologia política propõe o que propõe visando um mundo melhor (ainda que apenas aos olhos de quem a defende) [R15][N8].
Por exemplo, o liberalismo propõe "liberdade, vida e propriedade"[R16] porque, no entendimento dos que o defendem, se tais valores forem presentes e defendidos numa sociedade, se obterá uma melhor para todos viverem. Assim também o conservadorismo defende as tradições[R17] porque seriam boas para a sociedade. Isso permanece presente até em casos evidentemente ruins: alguém que odeia toda a humanidade poderia propor uma ideologia niilista que pregasse o fim da espécie humana a ser alcançado pela prática de genocídios. Por pior que tal visão seja, ainda assim é intrínseca a ela a noção que sua implementação traria um mundo melhor segundo a ótica de seu defensor.
Portanto, independente do que se defenda, o conteúdo prescritivo de toda visão política é apontado a um estado social qualitativamente positivo seja em termos relativos, absolutos ou ambos[N9]. Assim, a ideologia política esquerdista afirma, em caráter essencial a essa visão, que se deve defender, buscar, implementar igualdade ou mais dela de alguma forma que, assim feito, trará consigo um mundo bom ou melhor.
Uma ideologia errada
Tendo em vista o que foi dito anteriormente sobre refutação a pacotes de ideias, tem-se que se isso não for verdade (que igualdade ou mais dela implica em estado qualitativamente positivo e/ou superior), então, um componente essencial ao esquerdismo estará errado e, doravante, essa visão política será incorreta. Dizendo de outra forma: o esquerdismo só será correto se e somente se igualdade ou mais dela implicar em estado qualitativamente positivo ou superior.
Aqui essa ideologia enfrenta uma dificuldade uma vez que tal afirmação é demonstravelmente falsa. De fato, vários casos em que igualdade ou mais dela não implica em algo positivo ou melhor podem ser observados.
Por exemplo, suponha-se que há uma sociedade hipotética de 100 pessoas e que há certos direitos humanos básicos que deveriam ser reconhecidos e respeitados. Num primeiro momento, o sistema de justiça local é de tal forma caracterizado que apenas a metade destas pessoas possui seus direitos respeitados enquanto os dos demais são sistematicamente violados. Supõe-se, então, que reformas são feitas e agora todos os integrantes passam a ter seus direitos violados. Nesta segunda situação, tem-se uma sociedade igualitariana onde todos possuem paridade de direitos. Todavia, na medida em que ter direitos humanos respeitados é algo desejável, essa nova situação igualitariana não só é péssima, como é pior do que a situação desigual original; a sociedade piorou com o aumento da igualdade.
Outro exemplo: suponha-se que uma outra sociedade hipotética com 100 membros esteja com problemas de acesso a saneamento básico, este estando disponível a apenas 30% da população. Neste caso, tem-se uma desigualdade no acesso a essa estrutura desejável. Então uma guerra acontece e todo o sistema de saneamento é destruído por bombardeios. O resultado é que agora todos os cidadãos não possuem sistema de esgoto funcional ou água potável em suas residências. Ao contrário do estado inicial anterior à guerra, este segundo é igualitário e, todavia, tanto é certamente ruim quanto é evidentemente pior do que o anterior uma vez que possui ainda menos saneamento do que tinha antes.
Casos hipotéticos como os acima revelam que é falso afirmar que igualdade ou mais dela implica em bom ou melhor ao exporem que ela também se faz presente em situações ruins ou piores. Dizendo de outra forma, a igualdade não é correlacionada à qualidade[N10]. Isso pode ser visualizado como consta na figura 1 abaixo. No gráfico à esquerda, tem-se a tese igualitariana: quanto maior o seu valor, maior a qualidade. Já o gráfico à direita expressa o que exemplos como os anteriores demonstram ser o caso: que esse vínculo não se verifica na medida que o aumento da paridade pode equivalentemente levar tanto à maior quanto à menor qualidade.
Figura 1 - Comparativo entre a proposta igualitariana e a realidade
Tendo em vista o que foi abordado na introdução desse artigo, o fato de que igualdade ou mais dela não implica em bom ou melhor implica na inveracidade de uma tese essencial da esquerda e, doravante, à sua falha como uma proposta política.
Uma ideologia ilógica
Apesar do que já foi dito ser um problema suficiente para aceitabilidade da esquerda como uma visão política correta, pode-se argumentar que sua falha vai além. Isso se dá porque a tese anteriormente analisada e essencial à essa visão não expressa apenas uma afirmação equivocada (tal qual "1 + 1 = 3" ou "a Terra é plana"), mas também é um caso da falácia igualitariana, um erro de raciocínio[R18][N11]. E essa constatação fundamenta uma segunda motivação para a rejeição ao esquerdismo.
Um argumento usado como suporte racional à crença em alguma proposição será ruim, incapaz de cumprir seu objetivo, se for deficiente ao possuir premissas incapazes de suportar logicamente a conclusão[N12]. Quando esse é o caso, entende-se que ele não deveria ser crido ou defendido, i.e., ele é racionalmente inaceitável[R20][N13].
Assim por exemplo, um motivo para o silogismo "todos os homens são mortais, Jesus é homem e, portanto, Jesus é mortal" ser aceitável é ser logicamente coerente. Em contrapartida, o argumento "todos os homens são mortais, Jesus é homem e, portanto, Jesus nunca existiu" não é racionalmente crível porque é logicamente falho: suas premissas, ainda que verdadeiras, não conseguem adequadamente sustentar a veracidade da conclusão.
Embora argumentos costumem ser apresentados de forma isolada ou ao lado de outros em um caso cumulativo em defesa de uma crença, eles podem vir a ser expressos como uma tese supostamente correta em uma obra maior. Nos casos em que aquela tese for essencial a essa obra, então a aceitabilidade racional da mesma estará vinculada a do argumento: na medida que afirmar a obra implicará em afirmar o argumento nela contida, ou seja, não há como afirmar a obra sem afirmar o argumento, então se este for racionalmente inaceitável, assim também será a obra que o afirma.
Por exemplo, supõe-se uma empresa de produtos naturais que deseja persuadir potenciais clientes a consumi-los. Ela, então, lança um comercial afirmando que estes deveriam adquiri-los "porque são naturais e, por isso, são bons". O problema é que tal argumento está a afirmar a falácia de apelo à natureza[R19], tornando a propaganda racionalmente ruim. Neste caso, o que se está a propor é apenas uma entre outras possíveis justificativas em prol da conclusão visada (a de que os clientes deveriam comprar os produtos desta empresa) e, portanto, ainda que essa motivação específica deveria ser rejeitada, sua inadequação não invalida a conclusão defendida; pode ser bom consumir esses produtos por outras razões. Algo diferente ocorre quando essa empresa opta por outra estratégia de marketing envolvendo a criação de uma nova ideologia que prega que "as pessoas deveriam ser boas umas com as outras, amarem seus familiares e consumir produtos naturais porque eles são bons por serem naturais". Neste caso, não se trata de apenas um argumento entre outros onde sua invalidade não afeta a veracidade da conclusão pretendida, mas uma tese essencial a essa ideologia hipotética e que afirma um raciocínio logicamente deficiente. Por consequência, na medida que não há como desassociar esse pacote de ideias dessa falácia, então ele será racionalmente inaceitável por sua causa e seja quem for rejeitar aquela deverá também rejeitar esse ideário que o afirma.
Assim, um pacote de ideias poderá ser racionalmente crível se e somente se suas ideias forem logicamente coerentes. Todavia, esse não é o caso do esquerdismo que assevera uma falácia lógica em seu âmago, a da igualdade. Consequentemente, essa ideologia não parece ser racionalmente aceitável e deveria ser rejeitada na mesma medida em que argumentos falaciosos devem ser. Essa conclusão implica que, diferente do que parece ser o caso de muitos ideários, o esquerdismo vai além do simples erro factual (o de expressar afirmações incondizentes com a realidade): ele também é logicamente deficiente[N14].
Conclusão
Neste artigo, a visão política esquerdista foi reconhecida como um ideário que defende, em caráter essencial a ele, que um mundo igualitário ou mais igualitário seria um mundo melhor a um desigual e que, doravante, devemos buscar uma maior paridade em nosso planeta. Também se defendeu que tal afirmação não é apenas demonstravelmente falsa, como também é uma falácia lógica, o que produziu dois derrotadores para aquela visão[R21]. Na medida da veracidade dessas observações, pode-se concluir que o igualitarianismo que visa um mundo melhor é uma visão inadequada e crer na ideologia política que o expressa consiste numa crença contrária ao exercício adequado da razão: quem o fizer estará errando intelectualmente tanto quanto qualquer indivíduo que acredita em quaisquer teses factualmente equivocadas ou logicamente deficientes - com o agravo que, neste caso, estará errando de ambas as formas.
Se tais ponderações estiverem corretas, a adequada reação pública a tais deliberações será a mesma que é devida a qualquer pacote de ideias demonstrado inadequado: o seu abandono. Assim como um cristão deveria abandonar a sua fé uma vez exposto a uma refutação da inexistência de Deus[N15], assim também esquerdistas deveriam abandonar o seu posicionamento político em face das constatações deste artigo. Isso dito, assim como um cristão não precisaria automaticamente rejeitar todos os ensinos de Jesus ao ver sua fé invalidada pelo ateísmo, assim também o abandono do igualitarianismo não justifica automaticamente rejeitar todas as demais causas pelas quais esquerdistas têm defendido[N16] (luta contra o racismo, pela preservação do meio-ambiente, etc.).
Comentários
Criticar o esquerdismo por via do seu pensamento igualitariano não é uma novidade, tendo isso sido o assunto de diversas obras nos últimos séculos. Todavia, aparentemente a maioria destas respostas tem focado em questões de valor seja dizendo que a igualdade é irrelevante (como quando alguns afirmam que "a desigualdade econômica não importa, apenas a pobreza"[R22]) ou que é menos importante que outras coisas (como liberdade[R23]). Já os dois derrotadores apresentados neste artigo apoiam uma outra perspectiva segundo a qual os erros da ideologia é o de estar factualmente equivocada e o de ser logicamente deficiente.
Assim como acontece com os pacotes de ideias, as teses aqui propostas também podem ser incorretas. Isso traz à vista a questão sobre como esta crítica poderia ser derrotada. Normalmente entende-se que um argumento pode ser vencido apontando-se alguma falha na sua forma, invalidando a aceitação em uma ou mais de suas premissas ou apontando para a maior probabilidade de outra conclusão em caso de teses probabilísticas[R20]. Com isso em mente, a seção a seguir contém algumas críticas previsíveis precedidas por uma análise de como se localizam em relação aos argumentos apresentados.
Análise de possíveis críticas
O primeiro argumento visa demonstrar que a visão esquerdista é equivocada por asseverar essencialmente uma afirmação inverídica e pode ser resumido da seguinte maneira[N17]:
A1.1: Se o esquerdismo afirma essencialmente uma ideia incorreta/falsa, então o esquerdismo é falso/incorreto.
A1.2: O esquerdismo afirma essencialmente uma ideia incorreta/falsa (a de que igualdade ou mais dela implica em estado qualitativamente positivo ou superior).
A1.3: Logo o esquerdismo é falso/incorreto.
Quanto à sua forma, o raciocínio acima é um caso do clássico modus ponens e, portanto, é logicamente válido e sua conclusão necessariamente será verdadeira se as premissas forem verdadeiras[R24]. Assim, possíveis erros só poderão ser encontrados na aceitabilidade destas. No caso da premissa A1.1, o que ela diz é uma tese pressuposta em muitas das obras que avaliam e criticam as mais variadas teorias, correntes filosóficas e doutrinas afins sendo, portanto, relativamente incontroversa. Então, é provável que a maioria das críticas acabem sendo centradas na segunda premissa.
Já o segundo argumento defende que essa ideologia é racionalmente inaceitável na medida que ela expressa essencialmente um erro lógico de raciocínio e pode ser resumido da seguinte forma[N18]:
A2.1: Se o esquerdismo afirma essencialmente um raciocínio inválido, então ele é racionalmente inaceitável.
A2.2: O esquerdismo afirma essencialmente um raciocínio inválido (uma falácia lógica, a da igualdade).
A2.3: Logo, o esquerdismo é racionalmente inaceitável.
Novamente a forma do derrotador é um modus ponens e doravante logicamente válida. Também a sua primeira premissa A2.1 aparenta ser relativamente incontroversa sendo defendida sempre que se rejeita uma tese que essencialmente afirme algo que seja sabidamente falso. Então, as críticas possíveis tenderão a focar na segunda premissa assim como no caso do primeiro derrotador.
Críticas antecipadas
Ausência de essencialismo
Uma crítica possível a ambas as segundas premissas consiste na rejeição do caráter de essencial da afirmação da falácia da igualdade. Segundo essa perspectiva, a justificativa de um alvo positivo para a defesa da paridade seria apenas uma característica tradicional e não uma essencial para a esquerda. Em outras palavras, embora a maioria dos esquerdistas defendam a igualdade porque julgam que ela implementada levará a um mundo melhor, a visão per se não afirma essa justificativa. Consequentemente, quem apresenta essa objeção rejeita a observação de que ideologias políticas são voltadas essencialmente à busca de um mundo melhor.
Em resposta, tal proposta não parece ter amparo algum em evidência. Afinal, incontáveis expressões políticas demonstram que todo esquerdista, direitista, liberal ou afins defende o que defende visando um mundo melhor segundo a sua ótica de "melhor". Na medida que isso é verdade, parece implausível dizer que ainda assim se trata de uma mera tradição e não uma característica básica das ideologias políticas.
Todavia, mesmo que tal resposta fosse verdadeira, ela teria pouca utilidade em refutar a aplicabilidade prática dos derrotadores apresentados neste artigo. Isso ocorre porque a caracterização da afirmação da falácia da igualdade como intrínseca à ideologia esquerdista não é necessária para a aplicabilidade dessa crítica na população que a expressa: na medida que um defensor dessa visão asseverar em seu intelecto que almeja e a razão porque almeja igualdade ou mais dela é porque assim se terá um mundo bom ou melhor, então ambos os derrotadores aqui apresentados se aplicarão a ele em seu esquerdismo. Uma vez que os únicos ditos esquerdistas intocáveis por essa obra seriam aqueles que defendem paridade por qualquer outra motivação e que tais não existem ou são praticamente inexistentes, então os derrotadores ainda se mostrariam válidos "para todos os fins práticos": a maioria, senão a totalidade, dos esquerdistas no mundo ainda deveriam deixar de sê-lo[N19].
Igualdade pontual
Outra possível objeção defende que a afirmação da presença da falácia da igualdade não consiste numa descrição correta da proposta igualitária e, por isso, ambos os derrotadores fazem um ataque a espantalho[N20]. Segundo essa resposta, alegar que "o esquerdismo defende a paridade" seria uma simplificação generalista que não considera os detalhes dessa ideologia e suas vertentes.
A resposta diz que as diversas correntes esquerdistas não defendem simplesmente um mundo mais igualitário, mas especificam em que áreas e de que maneiras essa paridade deveria se caracterizar e ser implementada. Ou seja, elas não estão a defender toda e qualquer forma de igualdade ou ela por si mesma. Por consequência, um esquerdista pode se ver concordando que nem toda igualdade implica num mundo melhor ao mesmo tempo em que acredita que aquelas específicas que ele propõe trariam esse resultado.
Por exemplo, um esquerdista poderia defender que devemos ter igualdade de direitos civis entre homens e mulheres e entre brancos e negros porque o mundo será melhor se for assim. Ao mesmo tempo, essa mesma pessoa poderia rejeitar semelhante paridade de direitos entre crianças e adultos reconhecendo que, neste caso, é melhor haver alguma desigualdade nas leis aplicáveis aos dois grupos. Fazendo assim, esse indivíduo estaria defendendo uma certa igualdade específica (de direitos) para um ou mais casos específicos (sexo/gênero e etnia/raça) sem que, automaticamente, estivesse se comprometendo com qualquer outra forma de paridade (como econômica) ou em qualquer situação (idade).
Com respeito a essa crítica, seu primeiro defeito é que essas "defesas específicas da igualdade" apresentam o mesmo problema existente no "igualitarianismo amplo". De fato, as mesmas observações feitas anteriormente poderiam ser usadas nestes casos específicos: no exemplo dos direitos civis, pode-se conceber uma sociedade onde brancos e negros (ou homens e mulheres) possuem nenhum direito civil garantido por lei, uma situação na qual há igualdade e nem por isso a sociedade por eles composta é boa ou melhor do que uma desigual. E na medida que os casos específicos de defesa da paridade estão sujeitos ao mesmo problema que o "igualitarianismo amplo", defendê-los não salvará o esquerdismo do que foi apontado nesse artigo.
Segundo, alegar que há um ataque à espantalho ao se "generalizar" a defesa da igualdade não procede porque qualquer defesa da mesma já se enquadrará nas observações feitas nas premissas A1.2 e A2.2, seja numa forma irrestrita ou pontual. Isso ocorre porque os problemas apresentados são manifestos não apenas em termos absolutos (total ou completamente ausente), mas também em termos relativos (mais ou menos). Ou seja, basta a visão defender "mais" igualdade como implicando em estado qualitativamente positivo ou superior que as premissas já se aplicarão. E já que qualquer implementação dessas "paridades pontuais" implicará num mundo mais igualitário[N21], o dito "igualitarianismo pontual" nas teses esquerdistas não livra a ideologia da veracidade das premissas A1.2 e A2.2.
Igualdade como maximização generalizada de qualidade de vida
Outra resposta possível também alega existir um certo ataque à espantalho quanto ao sentido da defesa da igualdade considerado nas críticas deste artigo. Segundo esta objeção, quando se diz que se deseja paridade, não estaria se dizendo que "no tocante a uma certa propriedade social X, todos os integrantes da sociedade deveriam possuir a mesma quantidade de X", mas "todos deveriam possuir X ao seu máximo possível/disponível". Ou seja, "igualdade" significaria que todos e não apenas alguns deveriam se beneficiar do máximo atualmente disponível de X.
Essa perspectiva estaria associada a uma visão classicista das sociedades modernas desde a França da monarquia até aos dias de hoje. Segundo essa perspectiva, as sociedades têm sido tradicionalmente compostas de grupos sociais onde alguns destes possuem a seu dispor o melhor de sua época em saúde, segurança, educação, influência política e afins. Do outro lado, outras classes sociais, especialmente a dos pobres, mas também negros e mulheres, não teriam acesso ao mesmo nível de qualidade de vida ou influência política. Nesse contexto de desigualdade, a crítica partiria da parte dos menos favorecidos e de seus aliados ideológicos que não estariam preocupados com a distância entre os menos e os mais favorecidos per se, mas tão somente desejando que todos os cidadãos desfrutassem do bom e do melhor existente em sua época. Ou seja, "queremos igualdade" seria sinônimo de "queremos ter uma boa qualidade de vida assim como vocês". Dessa forma, interpretar a busca pela paridade como uma preocupação entre a distância entre os menos e os mais favorecidos seria um equívoco interpretativo. Como esse é o sentido pressuposto neste artigo, então suas críticas não se aplicariam ao esquerdismo[N22].
Há alguns problemas com essa resposta. O primeiro é que, na melhor das hipóteses, essa "interpretação dos anseios esquerdistas" não se aplica ao que muitos dos defensores dessa ideologia realmente defendem. Por exemplo, quando é afirmado que "é um absurdo que uns são tão ricos enquanto outros são tão pobres", o sentido está mais para "não deveria haver pessoas ricas enquanto há pobres no mundo" do que para "era para todos serem ricos como os ricos são". De fato, quando se noticia nas mídias sociais que houve um aumento do número de milionários em um país, é comum haver reações negativas vindas da parte de esquerdistas que não teriam motivo algum para se indignar com isso se não houvesse uma preocupação com a distância entre ricos e pobres (afinal, um aumento do número de ricos significa que muitos estão melhorando sua qualidade de vida). Semelhantemente a clássica crítica de políticos de esquerda reclamando que "os ricos estão ficando mais ricos e os pobres mais pobres"[R25] também só faz sentido sob uma ótica de preocupação com distância entre as partes[N23]. Por fim, algumas das propostas de correção das desigualdades evidenciam o desejo de redução de distância. Este é o caso das taxações sobre fortunas e heranças como proposto por Thomas Piketty[R26][R27] e outros, uma medida que não visa apenas lutar pelos desfavorecidos enquanto os abastados são deixados com seus bens, mas reduzir a distância entre ambos[N24][N25].
Assim, ainda que alguns esquerdistas possam estar defendendo a paridade em acordo com a ótica dessa crítica, essa de forma alguma representa o que todos estão a defender. Por isso, na melhor das hipóteses, poderia se dizer que há alguns que defendem um sentido de igualitarianismo que não está sujeito aos derrotadores desse artigo.
Porém nem mesmo isso é plausível. Afinal, ser defensor da igualdade não é de forma alguma um sinônimo de ser defensor da melhora na qualidade de vida dos desfavorecidos. De fato, esse desejo de que "todos deveriam possuir X ao seu máximo possível/disponível" é compatível com outras ideologias como a liberal. Não à toa, não-esquerdistas também são vistos defendendo a melhora na qualidade de vida de toda a população e muitos praticam a caridade para com os mais pobres, o que evidencia seus desejos que estes também venham a gozar de uma vida de maior bem-aventurança[N26]. Assim, definir a visão esquerdista como a defesa de que todos tenham acesso a uma boa ou máxima qualidade de vida não é descritivo. Antes, é mais plausível concluir que aqueles que se tem intitulado "defensores da igualdade" sem estarem realmente preocupados com distância não estão expressando sua visão direito. Conclui-se que os derrotadores deste artigo adequadamente abordam a defesa da paridade na medida que há, de fato, uma sendo feita ao invés de alguma visão alternativa sendo inadequadamente retratada como "defesa da igualdade".
Aceitabilidade de argumentos falaciosos 1
O segundo derrotador considera que argumentos logicamente falaciosos não são racionalmente aceitáveis, ou seja, devem ser rejeitados. Em resposta, se poderia alegar que isso não é necessariamente o caso porque seria possível aceitar racionalmente um argumento que possui uma estrutura reconhecida como inadequada ao menos em alguns casos. Portanto, argumentos assim não seriam automaticamente ruins e, então, a mera afirmação da falácia da igualdade pela ideologia esquerdista não a tornaria racionalmente inaceitável.
Como exemplo dessa ideia, tem-se o caso da falácia de composição quando aplicada à cor de um piso. Esta consiste em afirmar que o todo possui uma determinada propriedade porque uma ou mais ou até todas as suas partes possuem essa propriedade. Embora genericamente errado, alguém poderia alegar que há casos específicos em que esse raciocínio se sustenta. Por exemplo, parece plausível supor que se todos os azulejos que compõem um piso forem de uma certa cor, então ele será dessa cor. Neste exemplo, embora esse argumento seja um caso da falácia de composição como foi apresentada, ele parece plausível.
Embora essa crítica possa estar alinhada ao entendimento contemporâneo deste assunto[R28][R29], ela pouco faz em prol de salvar o esquerdismo do segundo derrotador por pelo menos duas razões.
Primeiro, ainda que se aceite que uma reconhecida falácia tenha exceções, isso não invalida o fato de que, de forma geral, se um argumento é falacioso, ele deveria ser rejeitado ao menos até que se demonstre que ele se trata de uma exceção. Em outras palavras, na medida em que não há nenhuma demonstração de que a falácia da igualdade expressa pelo esquerdismo é uma exceção, é perfeitamente plausível que se adote a regra até que tal condição de exceção seja demonstrada. Meramente apontar que é "possível" que ela seja uma exceção faz pouco para invalidar o tratamento padrão que se dá a argumentos reconhecidamente falaciosos, que é a rejeição. Assim, até que se demonstre que o caso presente é um desses casos excepcionais, a falácia da igualdade deveria ser tratada como se normalmente trata quaisquer argumentos falaciosos.
Segundo, essa crítica assume o entendimento segundo o qual uma falácia é inicialmente definida em termos amplos para, depois, se observar a existência de exceções. Porém essa tradição é de forma alguma imperativa ou necessária: essas definições poderiam ser revisadas de tal forma a internalizarem os casos de exceção, consequentemente eliminando os mesmos. Então, no caso anterior da composição, a sua definição poderia ser revista para especificar que ela apenas acontece com as propriedades ditas não-expansivas[R30]. Assim, ao invés da forma como foi apresentada, o erro de composição poderia ser expresso como "quando o todo possui uma determinada propriedade não-expansiva porque uma ou mais ou até todas as suas partes possuem essa propriedade". Uma vez que tais redefinições são feitas, as ditas exceções desaparecem e essa resposta torna-se incapaz de salvar o esquerdismo da aplicabilidade do segundo derrotador.
Aceitabilidade de argumentos falaciosos 2
Uma última possível crítica ao segundo derrotador afirma que a falácia da paridade é do tipo que pode ser facilmente eliminada pela consideração de uma premissa implícita, o que se aplicaria também à proposta igualitariana do esquerdismo. Segundo essa observação, a sua forma característica e inválida "é igualitário ou mais igualitário, logo é bom e/ou melhor do que se não fosse" pode ser reescrita como:
FI1: Se é igualitário ou mais igualitário, então é bom e/ou melhor do que se não fosse.
FI2: É igualitário ou mais igualitário.
FIC: Logo, é bom e/ou melhor do que se não fosse.
Neste caso, o raciocínio que antes se apresentava falacioso é convertido num válido modus ponens indicando que este não se trata de um erro formal, tal qual afirmação do consequente ou negação do antecedente (situações nas quais a forma é invariavelmente non sequitur), antes sendo uma falácia informal tal qual apelo à natureza ou à Hitler[R31]. A consequência dessa observação seria a de que, em última instância, o segundo derrotador falharia ao apontar para a existência de uma falha lógica onde, no máximo, haveria uma falha de premissa (a implícita). Em outras palavras, se há algum erro no esquerdismo, esse não seria lógico, mas tão somente o de afirmar algo falso, a questão da qual o primeiro derrotador já trata. Assim sendo, essa crítica avalia que o segundo derrotador falha ao tratar um raciocínio inválido por simplificação como se o fosse essencialmente. Indo além, ela ainda poderia acusar que o seu uso acabaria por violar o princípio da caridade segundo o qual um argumento (ou tese) deve ser tratado em sua melhor forma[R32], neste caso essa sendo aquela que possui forma lógica válida e considera a sugerida premissa implícita.
Apesar de poder ser a resposta mais forte à crítica lógica do esquerdismo, essa proposta faz pouco para salvar essa ideologia do derrotador em questão. Isso se deve porque a natureza informal da falácia da igualdade não elimina a sua rejeitabilidade racional, i.e., qualquer raciocínio que o expressar continuará a ser racionalmente inaceitável independente do tratamento que for dado (ou que deveria ser dado) a alguma premissa implícita. De fato, tanto é assim que a resposta tradicional a raciocínios informalmente falazes não envolve a análise factual de premissas implícitas, mas tão somente a sua exposição seguida de rejeição.
Por exemplo, quando alguém expõe um argumento que comete o erro do apelo ao naturalismo, a resposta que se lhe é dada não é a de explicitar a premissa implícita e proceder com um debate sobre sua veracidade que de alguma forma anularia a rejeição àquele argumento em termos lógicos. Antes, o que se faz é apontar que este comete a falácia e se o rejeita. Similarmente quando alguém comete uma falácia genética, a reação não é proceder com um debate sobre a veracidade de alguma premissa implícita após tal ser explicitada, mas simplesmente se aponta que há tal falácia e se procede em rejeitar o argumento apresentado[R33][R34]. Assim, quando um argumento é falacioso, a adequada reação racional a ele é a sua rejeição seja ele formal ou informalmente ruim e, consequentemente, o mesmo deverá ser feito com teses que afirmem raciocínios assim.
Ceticismo diante do histórico de aceitação
Por fim, poder-se-ia questionar como que essa ideologia política poderia ter se sustentado por tanto tempo estando de tal forma errada. Uma hipótese que talvez explique esse fato incômodo é a de que o equivocado igualitarianismo deriva-se de uma análise simplista sobre casos em que parece haver alguma relação entre "igualdade ou mais dela" e "bom ou melhor ou correto".
Por exemplo, a muitos parece bom que haja alguma medida de igualdade entre homens e mulheres e entre diferentes etnias dentro de uma sociedade. Porém nestes casos o bom ou melhor ou correto não é devido à paridade, mas à uma maior ou até plena quantidade de alguma propriedade boa e doravante desejável como direitos humanos ou riqueza ou saneamento ou afins. Ou seja, é de fato plausível pensar que uma sociedade perfeita incluiria, entre outras coisas, todos terem seus direitos humanos respeitados e todos terem acesso a saneamento básico, o que seria uma situação igualitariana. Todavia, como os exemplos deste artigo sugerem, não é a igualdade em direitos ou saneamento que faria essa sociedade ser excelente - outra sociedade sem nada destes itens seria idêntica em quantidade de paridade e, todavia, péssima -, mas a presença elevada de coisas boas de uma sociedade possuir. Assim, aquele que defende a maximização de propriedades (atributos) desejáveis a uma sociedade ("propriedades fazedoras de grandeza social"[N27]) está a defender uma boa e melhor, porém quem propõe uma sociedade mais igualitária não está a defender uma assim.
Notas
N1: Aqui usei uma visão correspondentista de verdade, porém isso não é necessário à minha tese. Seja qual for a visão epistêmica do leitor, a questão sobre se um pacote de ideias é verdadeiro dadas as suas proposições descritivas permanecerá. Também noto que algumas fontes, ao tratarem da condição de veracidade em argumentos, notam que o que realmente importa é a credibilidade da proposição em relação à audiência, algo por vezes chamado de "plausibilidade". Neste sentido, se diz que para um argumento ser bom, o que se precisa não é que suas premissas sejam (apenas) verdadeiras, mas mais plausíveis que suas negações. Em linha a essa alternativa, se poderia dizer que um pacote de ideias precisa ter "afirmações mais plausíveis que suas negações" para que seja tido como verdadeiro ou correto. Neste artigo, tratei essas abordagens como sinônimos já que tais nuances e o debate em seu entorno não são relevantes para esta obra. Para os interessados, sugiro o vídeo de Kevin deLaplante, "What is a Good Argument?: The Truth Condition", 2013, disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=9mk8RWTsFFw> e acessado em 07 de maio de 2022, bem como a resposta de William Lane Craig em "171 Apologetics Arguments", Reasonable Faith, 2010, disponível em <https://www.reasonablefaith.org/writings/question-answer/apologetics-arguments> e acessado em 08 de maio de 2022.
N2: Por "decentemente" me refiro a uma completa análise da aceitabilidade dessa proposta que inclua coisas como avaliação de prós e de contras.
N3: Naturalmente pode-se dizer que o capitalismo prega e envolve mais do que isso, porém o objetivo aqui não é fazer uma avaliação completa desse sistema econômico. Antes, usá-lo simplificadamente para exemplificar como um pacote de ideias pode compor-se de descrição e/ou prescrição e como que a avaliação da veracidade do pacote se relaciona à avaliação das suas afirmações. Para tal propósito, julgo evidente que esses pontos do capitalismo são mais do que suficientes.
N4: Tanto é assim que muitas das críticas a essa fé incluem a rejeição da existência de Deus. Por exemplo, em: Bill Flavel, "Eight reasons Christianity is false", Atheist Alliance International, 2018, disponível em <https://www.atheistalliance.org/thinking-out-loud/eight-reasons-christianity-is-false/> e acessado em 07 de maio de 2022; e em: English Wikipedia, "Criticism of Christianity", 2022, disponível em <https://en.wikipedia.org/wiki/Criticism_of_Christianity> e acessado em 07 de maio de 2022.
N5: Aqueles versados em teologia cristã poderão vir a dizer que não descrevi as referidas doutrinas de forma precisa, como de fato é o caso. Tomei essa liberdade porque uma descrição precisa não é algo relevante aqui e porque poderia tornar o parágrafo desnecessariamente grande demais. Para os que desejarem, uma referência sobre o tema é a obra do teólogo William Lane Craig acessível em seu site (https://www.reasonablefaith.org) onde ele delibera sobre as doutrinas cristãs com um maior nível teológico (como exemplo, sua aula sobre a doutrina da revelação: "Doctrine of Revelation (Part 7): The Authority of Scripture & Defining Inerrancy", Reasonable Faith, 2014, disponível em <https://www.reasonablefaith.org/podcasts/defenders-podcast-series-3/s3-doctrine-of-revelation/doctrine-of-revelation-part-7> e acessado em 07 de maio de 2022).
N6: Por "irracional" quero aqui dizer "contrário ao exercício próprio da razão", i.e., quando um indivíduo chega a uma determinada conclusão que toma por crença de uma maneira que não deveria ter sido aceita. Neste sentido, acreditar numa conclusão suportada numa ideia que foi demonstrada falsa ou num argumento logicamente inválido são exemplos de crenças irracionais.
N7: Mais sobre essa reflexão em: Bobby Conway e Lenny Esposito, "797. What's The Only Good Reason To Believe Anything?", One Minute Apologist, 2015, disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=MAeS15NsHgY> e acessado em 07 de maio de 2022.
N8: É notório que boa parte das referências de definição de "ideologia política" apenas afirmam que as mesmas visam "mudar o mundo", não incluindo menção que o é "para melhor" (exemplo: Maurice Cranston, "Ideology", Encyclopaedia Britannica, 2020, disponível em <https://www.britannica.com/topic/ideology-society> e acessado em 17 de março de 2022). Como esse objetivo é atestado por qualquer literatura política proselitista ou conversa com pessoas politicamente ativas, fica evidente que há uma simplificação desnecessária nessas fontes.
N9: Por "termos relativos" me refiro a um estado social comparado a outro onde a proposta em questão (liberdade, igualdade, etc.) é encontrada em menor quantidade.
N10: Ou ainda: o nível de igualdade não é correlacionado ao nível de qualidade.
N11: Para uma apreciação mais completa dessa constatação, sugiro a leitura do meu artigo anterior sobre o assunto ("A falácia da igualdade," Blog Momergil, 2017, disponível em <https://www.momergil.com/2017/10/a-falacia-da-igualdade.html>). Aqui cabe notar que a mesma falha lógica é presente nas suas versões paralelas: assim como é non sequitur afirmar um estado qualitativamente positivo ou superior a partir da igualdade, também o é a partir da desigualdade ("é desigual, logo é bom ou melhor"), o mesmo valendo para o seu oposto ("é desigual, logo é ruim ou pior").
N12: Como esse trecho está a tratar de falhas lógicas, não julguei necessário mencionar todas as possíveis maneiras como um argumento pode falhar em seu propósito, daí o "se" ao invés de "somente se".
N13: Devido a isso, boa parte das obras filosóficas contém análises de argumentos alheios procurando por algum destes problemas e que são usados como motivação para rejeição daqueles quando são encontrados.
N14: Neste argumento, estou simplesmente afirmando que, na mesma medida que não deveríamos aceitar (acreditar) em argumentos logicamente falhos, assim também não deveríamos aceitar algum pacote de ideias que afirma um argumento assim, esse sendo o caso do esquerdismo. Todavia, talvez seja possível derivar uma crítica ainda mais forte com base nessa observação da presença de uma falácia lógica nessa ideologia: a da sua impossível viabilidade e consequente inevitável crença irracional. O que se observaria aqui é que expressões logicamente incoerentes não são apenas inverídicas, como são impossíveis de serem verdadeiras. Por exemplo, a proposição "Michael Jackson nasceu no Brasil" é lógica, metafísica e nomologicamente possivelmente correta, porém factualmente falsa já que é um fato histórico que ele nasceu nos Estados Unidos. Por outro lado, as afirmações "ontem desenhei um círculo-quadrado" e "minha irmã é uma solteira-casada" não são apenas falsas, como impossíveis de serem verdadeiras na medida que expressam conceitos contraditórios ("círculo-quadrado" e "solteira-casada"). Já quando um argumento é logicamente deficiente de tal forma que sua conclusão não segue logicamente das premissas, essa falha lógica difere-se daquela das afirmações mencionadas: não há uma afirmação que é incoerente, mas um raciocínio, um conjunto de afirmações que não são logicamente conectadas entre si. Aqui se poderia propor que a situação muda se um argumento é transformado numa proposição que o afirme, como em "é verdadeiro que "as pessoas deveriam consumir produtos naturais porque eles são bons por serem naturais"". Neste caso, a incoerência lógica seria como que transferida para a proposição tornando-a necessariamente falsa, equivalente aos dois casos anteriores. Expressando isso na semântica dos mundos possíveis: assim como não há mundo possível em que "minha irmã é uma solteira-casada", sendo essa uma colocação incoerente, não há mundo possível em que "é verdadeiro que "as pessoas deveriam consumir produtos naturais porque eles são bons por serem naturais"". Se essa observação estiver correta, então ela implicará num problema para a ideologia esquerdista que afirma a falácia da igualdade como que defendendo que procede, pois neste caso é como se tal ideologia estivesse a afirmar algo análogo a "ontem desenhei um círculo-quadrado", implicando que não há mundo possível em que está correta. Consequentemente, a adoção do esquerdismo poderia ser ainda mais infeliz do que os dois derrotadores apresentados nesse artigo propõem: quando alguém acredita numa tese possível, porém inverídica (tal qual "Michael Jackson nasceu no Brasil"), pode-se entender que tal pessoa está apenas equivocada, talvez mal informada. Por outro lado, acreditar que "minha irmã é uma solteira-casada", uma afirmação logicamente impossível de ser verdadeira, não é algum simples equívoco informacional, mas plenamente irracional, impossível de ser crido racionalmente. Assim, se procede que afirmar em tese um raciocínio logicamente inválido equivale a expressar uma afirmação contraditória tal qual às dos exemplos dados, também sendo consequentemente impossível de tal tese ser verdadeira, crer nela e doravante em pacotes de ideias que as afirmem essencialmente será plenamente irracional, e esse seria o caso para o esquerdismo e sua falácia da igualdade.
N15: Imagino que alguns cristãos poderão não aprovar esse paralelo em função das teses de Alvin Plantinga sobre a crença em Deus como propriamente básica, concluindo que fui infeliz em escolhe-lo. Todavia, noto que o que afirmei diz respeito ao abandono da fé frente a uma "refutação" da existência de Deus e não a uma aparente refutação. Em outras palavras, eu concordo que um crente que possui o testemunho do Espírito Santo testificando da veracidade da sua crença cristã pode continuar crendo racionalmente na sua fé mesmo em face de um argumento ateísta que pareça persuasivo segundo a sua análise. Neste caso, o testemunho lhe garante que esse argumento está de alguma forma errado a despeito das aparências e ele perceberia isso se tão somente tivesse maior capacidade para efetuar sua avaliação. Todavia, se um argumento pela inexistência de Deus fosse feito que não fosse apenas aparentemente persuasivo, mas conclusivo (premissas factuais e estrutura correta), então entendo que um crente deveria abandonar a sua fé rejeitando o que até então ele interpretava ser o testemunho do Espírito Santo. Naturalmente quem entende possuir tal testemunho pode descansar na certeza de que tal argumento jamais será concebido, porém se ele o fosse, a apostasia seria o ato racional a ser exercido.
N16: Ainda que talvez se faça necessário uma revisão das motivações usadas como respaldo para a defesa destas causas. Por exemplo, se até então a luta contra o racismo é justificada sob a ótica igualitariana, agora outra justificativa deveria ser utilizada como, por exemplo, a de que ele se baseia em constatações equivocadas quanto à supostas diferenças qualitativas entre as raças/etnias.
N17: Uma versão mais completa seria:
A1.1: Um pacote de ideias contém afirmações essenciais à sua veracidade/corretude.
A1.2: Um pacote de ideias só será verdadeiro/correto se e somente se todas as suas afirmações essenciais forem verdadeiras/corretas.
A1.3: Consequentemente, se uma afirmação essencial a um pacote de ideias for falsa/incorreta, então esse pacote será falso/incorreto.
A1.4: Uma ideia é a de que "igualdade ou mais dela implica num estado qualitativamente positivo/superior".
A1.5: O esquerdismo é um pacote de ideias que afirma essencialmente 4.
A1.6: 4 é falso.
A1.7: Logo, o esquerdismo é um pacote de ideias falso/incorreto (A1.3 em A1.5 e em A1.6).
A1.8: Não se deve acreditar em/aceitar pacotes de ideias falsos/incorretos.
A1.9: Logo, não se deve acreditar no/aceitar o esquerdismo.
N18: Uma versão mais completa seria:
A2.1: Um pacote de ideias contém ideias (teses) essenciais.
A2.2: Uma ou mais dessas teses pode afirmar um argumento.
A2.3: Se um argumento expresso essencialmente por um pacote de ideias é racionalmente inaceitável (não deveria ser crido ou defendido), então o pacote de ideias que o afirma é racionalmente inaceitável.
A2.4: Um argumento logicamente deficiente é racionalmente inaceitável.
A2.5: Logo, se um pacote de ideias afirma um argumento logicamente deficiente, esse pacote é racionalmente inaceitável.
A2.6: O esquerdismo é um pacote de ideias que afirma essencialmente que "se o mundo for igual ou mais igual, então o mundo será bom ou melhor".
A2.7: O argumento em A2.6 é logicamente deficiente (falácia da igualdade).
A2.8: Assim, o esquerdismo é um pacote de ideias que afirma essencialmente um argumento logicamente deficiente.
A2.9: Logo, o esquerdismo é um pacote de ideias racionalmente inaceitável (não deveria ser crido ou defendido) (A2.8 em A2.5).
N19: É válido notar que é usual que esquerdistas se chamem "progressistas", algo que se soma como evidência de que a mentalidade da maioria ou totalidade dos mesmos é que suas ideias miram em um mundo melhor. Como leitura complementar, sugiro: W. Wesley McDonald, "Left Wing", Encyclopedia.com, 2018, disponível em <https://www.encyclopedia.com/social-sciences-and-law/political-science-and-government/military-affairs-nonnaval/left-wing> e acessado em 07 de maio de 2022.
N20: Um ataque à espantalho é uma falácia informal que consiste em criticar uma versão imprecisa e geralmente enfraquecida de um argumento, tese, ideia. Para mais sobre, sugiro a vídeo-aula de Kevin deLaplante, "The "Straw Man" fallacy", 2009, disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=v5vzCmURh7o> e acessado em 07 de maio de 2022.
N21: Ao menos se tudo o mais for igual, o que parece ser uma condição sempre pressuposta nas defesas do esquerdismo.
N22: Ou seja, a crítica deste artigo seria um ignoratio elenchi em relação ao "real sentido" da visão esquerdista: seus pontos podem até ser válidos, mas como o esquerdismo não trataria da desigualdade como distância entre partes, então seriam inúteis para refutar essa ideologia.
N23: Caso não houvesse preocupação com a distância, mas tão somente com o mal da pobreza dentro de um desejo pelo enriquecimento dos pobres, bastaria afirmar que "os pobres estão ficando mais pobres". De fato, só faz sentido apontar para o enriquecimento dos ricos ao lado do empobrecimento dos pobres sem preocupação com distância se a menção ao primeiro servisse tão somente para apontar para a existência de uma situação econômica favorável, i.e., para apontar que o empobrecimento dos pobres não seria devido a alguma crise que acabaria por atingir a todos, mas devido a outra causa que os está afetando especificamente. Tendo em vista que tal observação seria, por assim dizer, puramente técnica, o fato que tais manifestações costumam vir associadas a expressões de indignação demonstra que esse não é o caso.
N24: É plausível pensar que se o esquerdismo não estivesse preocupado com a distância entre os que estão melhores e piores numa sociedade, mas tão somente em melhorar a vida destes últimos visando equipará-los àqueles, então seus defensores não enfatizariam medidas que envolvem distância, como a taxação de grandes fortunas, mas aquelas que tem se mostrado efetivas em melhorar a qualidade de vida dos menos favorecidos independente de implicações positivas aos favorecidos. E isso é precisamente o oposto do que acontece. Um exemplo clássico gira em torno do capitalismo: como a ciência aponta, este sistema econômico tem sido muito bom em melhorar a qualidade de vida dos pobres desde o início da sua implementação, porém trouxe consigo o enriquecimento de muitos. Para alguém despreocupado com distância, mas tão somente com a melhora da qualidade de vida dos pobres, o capitalismo seria algo a ser adotado e defendido. Todavia, é justamente a esquerda que mais tem se voltado contra o mesmo.
N25: Para mais um exemplo de manifestação esquerdista que claramente está a preocupar-se com desigualdade em termos de distância, sugiro a leitura da matéria de Edison Veiga, "Desigualdade social, o maior problema do Brasil", DW, 2022, disponível em <https://www.dw.com/pt-br/desigualdade-social-o-maior-problema-do-brasil/a-60315722> e acessado em 07 de maio de 2022.
N26: De fato, equacionar a "busca por igualdade" do esquerdismo com "defesa da melhora da qualidade de vida dos desfavorecidos independente da distância destes para com os mais favorecidos" incorreria em tratar a esquerda como aqueles que possuem o "monopólio do amor aos desfavorecidos". Tal equacionamento só poderia ser correto se outras visões como o liberalismo não tivessem o mesmo intento. Na medida que isso é sabidamente errado (como qualquer conferida nas literaturas não-esquerdistas revela), não procede que há um monopólio do desejo pela melhora na qualidade de vida (desassociado de distância) no esquerdismo. Ou seja, o mesmo não se trata disso, o que refuta a interpretação presente nessa crítica.
N27: Uma referência às propriedades fazedoras de grandeza de um ser como Alvin Plantinga utiliza em seu argumento ontológico para a existência de Deus. A ideia de aplicar tais propriedades ao contexto social ("maximalismo") como uma forma de conceitualizar uma visão cristã de política será apresentada com maiores detalhes num trabalho futuro.
Referências
R1: Rakesh Sharma, "Who Was Adam Smith?", Investopedia, 2022, disponível em <https://www.investopedia.com/updates/adam-smith-economics/> e acessado em 17 de março de 2022.
R2: Johan Norberg, "The Real Adam Smith: Morality and Markets", Free To Choose Network, 2016, disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=V6S6pMsKzlI> e acessado em 18 de março de 2022.
R3: Johan Norberg, "The Real Adam Smith: Ideas That Changed The World", Free To Choose Network, 2016, disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=8ruiUOQERnw> e acessado em 17 de março de 2022.
R4: Mary Fairchild, "Get to Know the Basic Beliefs of Christianity", Learn Religions, 2020, disponível em <https://www.learnreligions.com/basic-christian-beliefs-700357> e acessado em 17 de março de 2022.
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R6: Jason Hiles, "Essential and Nonessential Christian Beliefs", Grand Canyon University, 2016, disponível em <https://www.gcu.edu/blog/theology-ministry/essential-and-nonessential-christian-beliefs> e acessado em 15 de abril de 2022.
R7: Shawn Nelson, "Essentials vs. Non-Essentials - The Need for Charity and Love", Biblical Training Center, 2019, disponível em <https://www.northcoastcalvary.org/wp-content/uploads/2019/06/Class-1-The-Need-for-Charity-and-Love-With-Answers.pdf> e acessado em 15 de abril de 2022.
R8: Com menções a várias referências: Beggar's Bread, "Essential and Non-Essential Doctrines of the Christian Faith", disponível em <https://beggarsbread.org/essential-and-non-essential-doctrines-of-the-christian-faith/> e acessado em 15 de abril de 2022.
R9: William Lane Craig, "Creation and Conservation Once More", Religious Studies, 1998, disponível em <https://www.reasonablefaith.org/writings/scholarly-writings/the-existence-of-god/creation-and-conservation-once-more> e acessado em 15 de abril de 2022.
R10: William Lane Craig e Kevin Harris, "What is Inerrancy?", Reasonable Faith, 2008, disponível em <https://www.reasonablefaith.org/media/reasonable-faith-podcast/what-is-inerrancy> e acessado em 17 de março de 2022.
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R19: Gary N. Curtis, "Appeal to Nature", Fallacy Files, disponível em <http://www.fallacyfiles.org/adnature.html> e acessado em 05 de maio de 2022.
R20: Baseado em distintos materiais que tratam das características de um bom argumento (validity, soundness, etc.). Exemplos são as vídeo-aulas do Kevin deLaplante sobre raciocínio crítico, sites especializados no assunto como Fallacy Files e artigos de William L. Craig como: "In Defense of the Kalam Cosmological Argument", Faith and Philosophy, 1997, disponível em <https://www.reasonablefaith.org/writings/scholarly-writings/the-existence-of-god/in-defense-of-the-kalam-cosmological-argument> e acessado em 08 de maio de 2022.
R21: William Lane Craig e Joe, "415 Plantinga’s Evolutionary Argument against Naturalism", Reasonable Faith, 2015, disponível em <https://www.reasonablefaith.org/writings/question-answer/plantingas-evolutionary-argument-against-naturalism> e acessado em 08 de maio de 2022.
R22: Fabio Ostermann, "O problema é a pobreza, não a desigualdade", Instituto Liberal, 2014, disponível em <https://www.institutoliberal.org.br/blog/o-problema-e-a-pobreza-nao-a-desigualdade/> e acessado em 19 de março de 2022.
R23: Free to Choose Network, "Milton Friedman - Equality or Liberty?", 2013, disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=zJV3ionPkhQ> e acessado em 19 de março de 2022.
R24: Kevin deLaplante, "Modus Ponens", 2013, disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=67x8NWKDctg> e acessado em 15 de março de 2022.
R25: Exemplo: Bernie Sanders, "Twitter post 1489735015378399232", 2022, disponível em <https://twitter.com/BernieSanders/status/1489735015378399232> e acessado em 15 de março de 2022.
R26: Bloomberg Markets and Finance, "Thomas Piketty on Inequality, Trump, Wealth Redistribution", 2020, disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=9lySKu9MiOg> e acessado em 15 de abril de 2022.
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R28: Kevin deLaplante, "The Ad Hominem Fallacy", 2011, disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=7GzXVqwYHVE> e acessado em 04 de maio de 2022.
R29: Bo Bennett, "Fallacy of Composition", Logically Fallacious, disponível em <https://www.logicallyfallacious.com/logicalfallacies/Fallacy-of-Composition> e acessado em 04 de maio de 2022.
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R32: Jonathan Maloney, "Principle of Charity", Intelligent Speculation, 2019, disponível em <https://www.intelligentspeculation.com/blog/the-principle-of-charity> e acessado em 04 de maio de 2022.
R33: William Lane Craig et. al., "704 The Bitter Fruit of a Bad Education", Reasonable Faith, 2020, disponível em <https://www.reasonablefaith.org/writings/question-answer/the-bitter-fruit-of-a-bad-education> e acessado em 04 de maio de 2022.
R34: William Lane Craig e Godfrey, "42 God and Neuro-Science", Reasonable Faith, 2008, disponível em <https://www.reasonablefaith.org/writings/question-answer/god-and-neuro-science> e acessado em 04 de maio de 2022.
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