Imagem da semana
Olá a todos!
Dando continuidade à série "leituras da semana", esta postagem conterá algumas das coisas que vi e li entre 8 e 14 de janeiro deste ano que achei interessante compartilhar e porventura comentar.
Como todos já estão sabendo, este período foi dominado pela cobertura do infeliz evento que ocorreu em Brasília no último domingo quando um grupo de bolsonaristas (talvez "antipetistas" seria mais preciso) invadiu e depredou as sedes dos 3 poderes na capital do Brasil. Já outro destaque da política foi o começo da abertura dos sigilos do governo Bolsonaro.
Segue, então, materiais sobre esses e outros eventos.
Assuntos diversos
Conheci por um vídeo aleatório do Instagram o site
TinyWow que contém uma série de ferramentas para edição de PDF, imagens e afins que normalmente são usadas por meio de softwares. Fica minha recomendação para tê-lo salvo na barra de favoritos de seus navegadores.
Política, economia e relacionados
Muito já foi dito nas redes sociais e veículos da mídia sobre todo o mal envolvido nos atos em Brasília no último dia 8 e eu concordo com boa parte do que foi dito. Aqui enfatizarei a notória estupidez por trás dessas atitudes. No caso, quando falo em "estupidez", faço uso do sentido técnico empregado pelo pesquisador italiano Carlos M. Cipolla em seu famoso artigo "
As Leis Básicas da Estupidez Humana". Neste trabalho, um ato seria categorizado como "estúpido" na medida que ele for prejudicial não só a outras pessoas, mas também aos próprios executores. Ao meu ver, as depredações em Brasília são uma infeliz demonstração desse tipo de ação: quebrar tudo aquilo não foi apenas prejudicial aos "outros", i.e., à população brasileira que teve as sedes de seu Estado estragadas com possíveis custos financeiros a serem financiados com impostos, mas ruim para os próprios manifestantes que naturalmente não conseguiriam e não conseguiram um avanço de suas pautas antipetistas, antes pelo contrário: ainda estão a serem presos e socialmente menosprezados. É lamentável como algumas pessoas "se animam" para agir de alguma forma sem realmente considerar antes o que provavelmente irão conseguir com aquilo e se será mesmo benéfico. Em alguns casos, parece que o que ocorre é uma convicção precipitada de que agir daquela forma é "o certo" e, sem maiores reflexões, vão para a ação ignorando que as consequências são comumente um forte indicativo sobre o quão correta uma ação é (se olharmos para os ensinos morais de forma geral, como os mandamentos de amor da fé cristã, veremos que eles geralmente trazem consigo benefícios). Assim, mais do que atos imorais ou antidemocráticos, o que se viu no 8 de janeiro foi uma manifestação em escala da estupidez que o ser humano é capaz de mostrar.
Uma análise que mostra evidências de "
whisful thinking" em meio aos politizados mais radicais: sem quaisquer reais evidências, acredita-se naquilo que se deseja acreditar, naquilo que convém, ao invés de naquilo que se deveria.
Os dois materiais acima são úteis para a refutação da tese "negacionista" de muitos bolsonaristas em dizer que os atos de 8 de janeiro foram perpetrados por "infiltrados da esquerda". Mais do que isso, também são úteis em desmistificar a lenda direitista de que ser seguidor do Bolsonaro (ou, mais genericamente, de direita) significa ser uma pessoa correta, que segue as leis, um "cidadão do bem".
Terem agido inspirados por crenças difundidas pelo ex-presidente Bolsonaro pode ser problemático para o mesmo sob a ótica de responsabilidade moral: no momento que uma pessoa difunde uma crença e esta acaba servindo de fundamentação para atos imorais, pode-se defender que haverá nexo de culpabilidade se os atos foram feitos em consonância com a crença difundida. Por exemplo: suponhamos que há duas pessoas, uma que prega que um determinado grupo é horrível e não deveria existir e outra que afirma exatamente o contrário. Duas outras pessoas ouvem cada qual o discurso de uma das duas primeiras e, acreditando no seu discurso, procedem em exterminar aquele grupo de forma genocida. Neste caso, podemos concluir que a pessoa que defendeu a inexistência daquele grupo possui responsabilidade pela prática genocida do seu seguidor enquanto que aquele que defendeu o seu bem não é culpado pela ação desconexa do seu mau seguidor. É dessa forma, por exemplo, que direitistas culpam a ideologia de esquerda e o marxismo em específico pelas atrocidades cometidas pelos regimes alinhados a essas ideias no século passado e no atual. Naturalmente há de se concluir que, se tal vinculação é válida para culpar Marx, também poderá ser válida para responsabilizar Bolsonaro.
Se houve falha da parte do governo federal na proteção aos 3 poderes, naturalmente é de se esperar punição.
Bela obra com algumas observações pertinentes às ações dos cristãos brasileiros em sua relação com a direita e o bolsonarismo.
Durante a campanha de Bolsonaro para a reeleição em 2022, alguns direitistas tentaram creditar ao seu governo a diminuição no número de mortes no Brasil ignorando que já havia uma tendência de queda desde o governo Temer. Este pareceu ser mais um caso da falácia de "correlação não implica em causalidade" onde se observa que há duas variáveis correlacionadas e logo se conclui que uma é causa da outra. A notícia da reportagem acima antevê algo que poderá ocorrer na campanha presidencial em 2026 caso a inflação durante o governo Lula for menor que a de Bolsonaro: alguns irão creditá-la como mérito do governo petista ignorando que já estava em tendência de queda antes do seu início.
As notícias anteriores sugerem que Bolsonaro fez uso do cartão corporativo para financiar eventos do seu interessante, que apoiassem politicamente o seu governo. Se isso procede, então temos o dinheiro público sendo usado não para o benefício da população, mas para o dos políticos em exercício. Se tal ato não é ilegal, no mínimo é moralmente questionável.
Neste vídeo, Johan Norberg comenta sobre prós e contras da democracia, este sistema político que está sob a mira dos debates, defesas e ataques no Brasil nestes últimos meses.
Não é novidade que o PT é deveras amigável com ditaduras de esquerda e tanto o seu passado como a notícia anterior estão aí para confirmar. A questão é quais conclusões devemos tirar desse tipo de relação. Uma possível é que o discurso pró-democracia desse partido não passa de uma fachada exposta diante de uma realidade onde o mesmo é incapaz de criar a sua própria ditadura por não contar com o apoio da maior parte da população e menos ainda das Forças Armadas, que são enviesadas à direita em nosso país. Diante disso, o discurso pró-democracia do Partido dos Trabalhadores presente ao lado de suas relações amigáveis e elogios a ditaduras de esquerda pode ser visto como semelhante ao sujeito que prega a fidelidade conjugal e virgindade pré-nupcial enquanto todo fim de semana é encontrado num prostíbulo elogiando seu dono pela qualidade do ambiente e serviços ali prestados.
Embora incompleto, os exemplos mencionados pelo artigo anterior são úteis para mostrar como uma economia de mercado permite que grupos marginalizados possam ascender economicamente mesmo sem contar com o apoio da maioria da população e dos governantes.
Uma das clássicas bandeiras da direita desde a metade do século passado é a guerra contra os entorpecentes. Tal luta é fundamentada tanto sobre o fato que tais produtos são prejudiciais à saúde quanto sobre o desejo de ver uma sociedade mais saudável, livre do consumo das drogas. O problema é que, embora as intenções dos conservadores sejam louváveis, seu amparo à guerra às drogas é fundamentado sobre uma premissa cientificamente falsa: a de que tal guerra seria efetiva no combate ao consumo dessas substâncias. Esse pressuposto está errado na medida que a curva de demanda dos entorpecentes é inelástica, ou seja, variações de acessibilidade (ter que ir a uma "boca" para comprá-la ao invés de uma loja próxima e segura) e de preço (que aumenta pelos riscos de comercializar tais produtos num contexto de proibição) pouco afetam a quantidade da demanda. Tal fato científico pode inclusive ser confirmado popularmente na medida que nunca se ouve que alguém queria consumir drogas e não o fez "porque o seu comércio é proibido"; quem quer consumir o faz independente da presença de proibição ou não. O resultado é que os bem-intencionados conservadores (dos quais eu já fui um e usando os mesmos argumentos) acabam por defender uma guerra que gera pouquíssimos benefícios junto a grandes prejuízos, tudo isso enquanto ações mais efetivas na obtenção dos resultados visados acabam sendo ignoradas. Concluo notando que tal problema poderia ser evitado se tão somente houvesse ensino de economia nas escolas.
Tenham uma boa semana e até a próxima,
Momergil
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